Falar de excesso de trabalho sem pensar no termo produtividade é uma tarefa, no mínimo, incomum. Afinal, esse tema é, em dúvidas, um dos mais abordados dentro do mercado de trabalho. O conceito que se estabeleceu por conta da indústria e os meios de produção é, ainda hoje, uma questão muito relevante dentro das organizações. A partir do século 21, a produtividade e a sua aplicabilidade foi modificando e se adequando ao processo de globalização e transformações socioeconômicas. As inovações tecnológicas (internet, computadores, smartphones, tablets etc.) estão entre os fatores causadores dessas mudanças.
Há de se considerar que vivemos, atualmente, em uma sociedade em que as ferramentas e os formatos de trabalho estão mais acessíveis e flexíveis, e, em tese, teríamos mais tempo para produzir e administrar demandas profissionais e pessoais sem que isso possibilitasse uma exaustão dos profissionais em atividade. Porém, não é o que acontece, na maioria das vezes, na prática. Conforme o mercado expande, as exigências vão crescendo proporcionalmente e a cobrança a nível de produtividade aumenta em diversos setores. Ela é, ainda, um requisito muito bem pontuado e solicitado pelas vagas, no ambiente organizacional, como um comportamento necessário para o êxito profissional.
Quem nunca ouviu um discurso estimulante no que tange a dedicação impecável ao trabalho? Quase que como uma devoção: “O trabalho dignifica o homem”, “É necessário vestir a camisa da empresa”, “Estudem ou trabalhem enquanto eles dormem”. Nessa perspectiva, muitas pessoas almejam um lugar de reconhecimento, a fim de conseguir alcançar as metas estabelecidas e conquistar, também, os seus objetivos pessoais. A grande questão é: não seria essa exigência uma "romantização"? Ou melhor, uma "glamourização" do excesso de trabalho?
A dedicação extrema ao trabalho, tão valorizada, inclusive, pelos chamados “workaholics”, promove um movimento muito prejudicial ao bem-estar físico, mental e emocional dos profissionais. Cria-se uma alusão de que esse é o único e mais adequado caminho para atuar de forma efetiva e ter o almejado prestígio e sucesso profissional. Em contrapartida, as consequências desse nível de demandas são estatisticamente danosas. Os números de profissionais diagnosticados com Síndrome de Burnout, também conhecido como “Síndrome do esgotamento profissional” vem crescendo consideravelmente, motivado pela pressão, alta cobrança de produção, responsabilidades e entregas.
A Síndrome de Burnout foi incluída na lista de Classificação Internacional de Doenças da Mundial da Saúde (OMS) e possivelmente entre em vigor até 2022. Apesar de não ser classificada como doença, é considerada pela OMS como “estresse crônico no trabalho”, ou seja, a síndrome está estritamente ligada ao ambiente e aos fatores profissionais. Uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) aponta que aproximadamente 30% dos profissionais brasileiros sofrem de Burnout. De acordo com o Ministério da saúde, entre os sintomas estão: cansaço excessivo, físico e mental. dor de cabeça frequente, dificuldades de concentração, sentimentos de fracasso e insegurança, pressão alta, dores musculares, alterações repentinas de humor, problemas gastrointestinais, entre outros.
A cobrança excessiva na performance profissional impacta notoriamente a nível macro. E o que isso significa? As consequências desse stress não irão afetar exclusivamente a execução das atividades profissionais, apesar de surgir por conta deste contexto. Uma pessoa que está passando pelo esgotamento profissional sente o impacto nas suas interações e seus relacionamentos interpessoais, possui dificuldade em exercer a sua criatividade, passa a ter uma autopercepção negativa, afinal, dentre os sintomas está a sensação de incapacidade e insegurança e pode passar a sentir, também, falta de afinidade e interesse pela profissão escolhida.
Diante desse contexto, qual seria o melhor caminho para tentar contornar esse cenário? Como sugere o Ministério da Saúde “É fundamental manter o equilíbrio entre o trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas”. Mais do que folga: é importante a leveza, equilíbrio para assumir responsabilidades e demandas, autocuidado, compreensão dos dados analisados e do cenário social e, não menos importante um tempo de ócio.]
Como Relações Públicas, a minha perspectiva de trabalho tem o foco totalmente nas pessoas. Do sujeito ao coletivo, é através do indivíduo que se cria relacionamentos, que se constrói pontes, projetos, ideias e atividades inovadoras. É fundamental que as empresas estabeleçam, como um dos seus principais compromissos, o bem-estar e a qualidade de trabalho do seu colaborador, alinhado com a satisfação na realização das suas funções.
Sem qualidade de vida, não é possível exercer bem nenhuma função e nem alcançar objetivos. Quando as ações se resumem aos resultados, lucros e metas que precisam ser alcançadas, infelizmente o direcionamento desse trabalho será focado no aumento da produtividade em com ela, a nociva ideia de que o trabalho deve ser orientado para: demandas, menos tempo de prazos, entregas, horas extras e mais sobrecarga.
Se o equilíbrio está de um lado, o excesso de trabalho está do outro e, se quisermos melhorar essa situação, está mais do que na hora de pensarmos em como ajustar essa balança! sobrecarga.
por Larissa Castelo Branco <larissacastelorp@gmail.com>
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